Quem sou eu? Meus amigos me chamam de Giglio. Ator, diretor do grupo de teatro pRoSCEniUm, dramaturgo, palhaço, poeta, militante eco-socialista. Criado e vivendo em Volta Redonda-RJ.

Todas as poesias, micro-contos, textos teatrais, desenhos, fotos, sons, vozes e filmes são culpa minha. Exceções para trabalhos com alguns fotógrafos e poetas convidados.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

fui confessar
pra quaresma
e conforme ia
desfiando meu rosário
fui descobrindo
mais pecados
que cometi solitário
pecados contra mim mesmo
quando me neguei três vezes
antes do canto do galo
quando me neguei ser eu
me moldando num molde torto
quando me joguei tanta pedra
por qualquer erro bobo
quando abaixei a cabeça
pra qualquer chefe tosco
pequei contra mim
e minha história
me trai
me agredi
me juntei com essa escória
mas depois de me confessar
comungo em paz
comigo mesmo
minha oração
é um canto
de liberdade
e essa meu deus
transborda em meu coração
todo vagão é muito ferro
e tem destino
o que eu quero é horizonte
ferro e destino
são desnecessários
só preciso chegar ao arco-íris
Chico nos bares
dez poesias
atravessa Volta Redonda
rumo a Barra Mansa
dormindo dentro do ônibus
sonhando com revolução
carlos eduardo giglio
é um louco
mas não tá morto
a ferro e fogo
vai marcando
seu caminho
a pau a pedra
vai construindo
sua história
e no final das contas
esse filho da puta
ainda vai bem mais além
que a vida não é tão ruim assim
e ele é homem que só faz bem
seus braços fortes
seus ombros largos
sua pele linda
seus pés descalços
sua homossexualidade
seus brancos dentes
os meus afagos
que não são falsos
beleza que não finda
diversidade
você é linda
de verdade

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

não
não sou sexista
isso quer dizer que não vejo
diferença entre nós
que gosto de mulher
e me comporto como homem
ao menos como a minha construção
do que é ser homem
que a diferença é biológica
que direitos e deveres e sentimentos
tem que ser iguais
sou vaidoso e não sou viado
e se me chamarem assim não vou me ofender
fui criado homem mas mesmo assim
aprendi a entender
que todo mundo é diferente
e é igual
e decidi ser eu
Homem com H MAIÚSCULO
gênero em construção
aprendi a cozinhar
costurar cuidar de criança
bordar
e isso não determina minha opção sexual
nem me impede de amar uma mulher
não quero dizer o que uma mulher pode
ou não fazer
é escolha dela e não tenho que me meter
(a não ser que ela me peça)
brinquei de boneca
(e de médico) com amiguinhas quando criança
joguei bola e olhei por buracos de fechaduras
pra ver os peitinhos das minhas primas
já cai na porrada quando moleque
e hoje sou contra violência
sou meio ogro mas sei dar carinho
adoro sexo e mulheres bonitas
e isso não me faz escroto
não ligo que ela pague minha conta
nem de pagar a dela
e se o trabalho calhar de ser conjunto
sei onde meu braço é mais forte
e onde o dela em certas horas
detesto dirigir
e se ela gosta
aproveito pra beber um pouco mais
e ir dormindo
criei meus filhos
fui pai e mãe
sou ati-sexistas
que fique claro
sou muito macho
porque tenho inteligência
não é porque tenho um falo
que eu me imponho
sou igual a você
e com a mesma força
grito pelos meus
e os seus direitos
e a nossa luta e luta comum
não vejo motivos
pra não estarmos juntos
o tempo todo
pra eu aprender com você
e você aprender comigo
a lutarmos juntos
por igualdade de direitos
e liberdade
para ir além
quero tudo
tudo mesmo
sem maldade
sem traumas
sem tédio
sem fim
enfim
quero você pra mim
assim
doce
linda
sexy
quero você na cama
na mesa
no banho
quero você pra mim
assim
linda
loira
tímida
delícia
do início
ao fim

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

perdi minha Estação Primeira
que passou que parou
que arrasou na passarela
que fez o povo cantar
feito sabiá na mangueira
não vi a baiana passar
por isso meu coração
um samba chorou
o mundo só não acabou
porque minha cabrocha voltou
me devolve minha costela
não
devolve você
os orgasmos que dei
não
você é que tem que me dar
os beijos que dei
não
pode me dar de volta
os carinhos as mordidas
os arrepios todos
que caprichosamente dei
não
me dá você todas as lambidas
que pelo seu corpo deixei
e os leves arranhões
que nas suas costas desenhei
não
deixa carinhosamente em meu corpo
cada cheiro cada gosto
cada suspiro que roubou
devolve você meu coração
que a muito tempo levou
não
foi você que levou o meu
o seu guardo comigo
nunca devolverei
ele bate no meu peito
viver sem ele não sei
pois o seu
também bate aqui dentro
se devolver não sei viver
então façamos a troca
minha boca na sua
seu sexo no meu
troca boa e prazerosa
mas ainda assim incompleta
melhor trocar nossas vidas
cada um em um canto
por outra mais perto
cada um sendo um
e sendo o outro
fazendo os dois
sendo um
não
que seja cada um
em seu canto
cada um de cada um
e os dois um do outro
e assim juntos e distantes
mais fortes mais bonitos
mais alegres
Adão e Eva sem pecado
beirando a quarta-feira de cinzas
because never nothing gonna change
o carnaval não acabou
e o meu bloco nem passou
mas aquela colombina
que havia ido embora
pra minha rua voltou
foi um samba tão bonito
que minha tristeza findou
largamos logo a fantasia
o pandeiro e o tamborim
nossa marcação chegou ao fim
foi a batida do coração
que nosso samba atravessou
mas ganhamos na harmonia
no sexo em sintonia
e até a quarta feira
de cinza ficou colorida
e nossa tarde mais florida
lá laiá lá lá
em vez disso
pede ao palhaço que você conhece
(ao menos virtualmente)
pra falar coisas de amor
coisas engraçadas
pra falar da poesia
do seu sorriso
pra falar da candura
do seu olhar
e se depois disso
nada adiantar
pede pra ele
amar
amar muito você
que ele vai gostar
vai se esforçar
e você vai gostar
do resultado bobo
dessa conjunção
do verbo amar
não me ligue chorando
não me fale da sua solidão
não queira que eu acredite
que tudo que foi
que tudo que falou
que tudo que disse amor
foi pro ralo do esquecimento
foi pro ralo o relacionamento
pode se mostrar forte
pode defender a todo mundo
mas você é covarde
você não se defende
e não sou eu que vou defender
você de você mesma
e quando me ligar chorando
quando a solidão apertar no abraço
liga não, liga não
leia poesia
e fique em paz
sempre estive bem
com você ao meu lado
em cima de mim
na minha frente
em qualquer lugar
tremendo de prazer
linda, gostosa
amor que nunca se mediu
nunca se pediu
nunca despediu
e quando você
fugiu
sabíamos que não
seria para sempre
e não adianta
pedir pra não viajar
pois essa viajem
sempre esteve em nós
nos nossos olhos
nossos olhares
lugares só nossos
nossos segredos obscenos
onde você é só minha
e não consegue fugir
estou desempregado
vendo a geladeira esvaziar
mas isso não tem importância
pois a luz será cortada
vendo a despença esvaziar
mas isso não tem importância
já não tenho gás pra cozinhar
vendo a senhoria cobrar
mas isso não tem importância
já mandou me despejar
minhas roupas começaram a puir
mas isso não tem importância
já não tenho dinheiro pra sair
mas isso não tem importância
amanhã um novo sol brilhará
e o mais importante
estou vivo e com forças
pra me virar
não falo de sua boca
pra não ser redundante
é claro que ela é linda
é claro que quero beijar
fico só observando
babando admirando mesmo
guardo comigo a vontade
guardo comigo
pra um dia
tirar do peito
tirar da idéia
ficar tranqüilo
e deixar você em paz
você com sua vergonha
apareceu assim do nada
foi suave seu jeito
suas palavras no Face
foi bonita sua presença
foi triste o seu partir
sua volta
que beleza
me fez outra vez
sorrir
quando você chegou
fez mau juizo de mim
e riu e riu
e me ganhou no riso
me ganhou
tão forte quanto trovoada
tão bela quanto flor
fruta madura
e muito bom papo
espero você
faz tempo
quero você
agora
sua mão magra
esmalte vermelho
sua boca bonita
beijo doce
seu rosto desenhado
figura forte
imagem marcada
no resto do meu dia
mãos lindas
brancas, suaves
dedos longos
bonitos e ágeis
fotografa
registra
eterniza
jovem beleza
seduz no movimento
na luz
e de punhos cerrados
luta
sua voz de menina
no telefone falando baixo
mexendo com minhas vontades
fazendo minha imaginação voar
você frágil e magra
você boca e cabelo
você que eu quero tanto

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

rosa e azul
modernidade caipira
pintura e poesia
Tarcila antropofágica
mágica
mulher
as mulheres de branco
com suas saias rodadas
suas guias no pescoço
girando ao som dos tambores
direto dos terreiros pra avenida
na cadência do samba
magia de bamba
viva as velhas baianas
o surdo fazia a marcação
e a morena com o chocalho na mão
esparramava sorrisos pela Toca
mexeu com meu coração
lembrou um velho samba da Mangueira
onde a Laura também era morena
e não saia da mente do poeta
como não sai da minha
e vira poesia de carnaval
queria o seu coração
em minhas mãos
pulsando por mim
pensando em mim
fazendo folia
no carnaval
da minha vida
pedi demissão
não sou mais professor
da rede municipal
não
não me chamem de louco
não me critiquem
apenas entendam
apenas deixem que minhas lágrimas
escorram pelo rosto
lavando minha alma
molhando o papel
onde antes
planejava aulas
e onde hoje escrevo poesias
e se me verem por ai
sentado nas praças
não me joguem moedas
não me chamem de louco
sentem comigo
pra ouvir histórias
pra ouvir poesias
pra uma conversa franca
pra aprender
que a melhor escola
é um coração tranqüilo
conheço centímetros do seu corpo
metros de sua alma
quilômetros de distancia
tenho saudade de você
quero te fazer rir
de alegria
das piadas
de mim
e do prazer
e por prazer
rir junto
e no fim
ir rindo da poesia
da vida
do passarinho
rir os dois bem juntinhos

domingo, 12 de fevereiro de 2012

amor é construção
tijolo, cimento
vergalhão
carrinho
água
feijoada na laje
canção
tempos difíceis
de liberdade vigiada
de greve
de polícia
bombeiro
traficante
professor
de polícia aquartelada
de greve
cantando
apitando
buzinando
bombeiro
intelectual
cagando
esquerda vacilando
passagem aumentando
traficante
no morro
upp oq?
greve
bombeiro
prédio caindo
greve
tiro pro alto
momento
difícil
criança de escudo
a lei do cascudo
momento
difícil
pinheirinho
casas no chão
política do pão
e circo e brincadeira
e o professor
tá piradão
até o Chico Revolução
entra na história
com seu assobio
chamando atenção
tempos difíceis
momento delicado
no fio da navalha
de direita facista
e sua polícia
nos campus
nos craqueiros
e até nos maconheiros
tempos difíceis
momentos
tormentos
ventos
enchentes
deslizamentos
onde para essa porra?
a polícia
tá aquartelada
aqui perto de casa
palavras de ordem
ecoam na noite
enquanto a brisa
refresca o apartamento
lá embaixo
os cachorros e os catadores não sabem
da greve,
dos salários
nem do tráfico
cachorros e catadores
só sabem de viver
Brisáh Morena
linda barriga
bolsa de almas
que carrega Anna
que vai ser linda
suave como a brisa
e linda como a mãe
a poesia em mim
sai como grito
cortando a carne
nervos coração
sou desses
que se apaixonam
a cada esquina
desde de que a esquina
vire à esquerda
que a mina
seja de água limpa
que a gata
pule no meu colo
que o bolo
seja de chocolate
que o nome
seja tão forte
que a aura
seja de luz
sou desses
fáceis assim
porém
indomável
a brisa invade o apartamento
vem refrescar a noite de verão
e a falta que você me faz
o peito vazio
a boca calada
ela, a brisa
em seu leve farfalhar de asas
passa como anjo
e me alivia a alma
roga comigo
faz companhia
e adormece em meus dedos
enlevada e beijada a exaustão
meu deus
tira de mim
essa lua cheia      
que me enlouquece
da cabeça e do coração
e bote pra alumiar o meu caminho
me levando sempre a frente com as armas
e armaduras de Jorge no caminho reto da paz e do bem