pegue seus escritos
seus diários suas memórias seus retratos
rasgue as palavras as fotos os fatos
corte na carne
sangre suas convicções
se submeta
aceite os fatos
se coloque no pau de arara
deixe se apagar nos jornais
deixe inventarem uma vida nova
onde você sem culpa é o vilão
se arraste por entre os carros
ria com baratas no cu
sinta a dor das porradas
urine com o choque nos mamilos
se atire de helicóptero na baia da Guanabara
deixe que governem seu país sua vida sua morte
não encare nem enfrente
se cale
mostra suas coisas pra Sônia
peça um carimbo um passaporte permissão
peça asilo
vá embora
que o dia dois de abril
nasce sujeito a balas
raios tiros e trovoadas
e se lhe derem corda
se enforca com ela ou com seu cinto
eu sinto
nada mudou
talvez as fardas verdes
substituídas por papel vagabundo
escrito com graxa
talvez a música
e pra não dizer que não falei de flores
falo de amores de drogas de crimes
falo do moleque morto pela polícia
ou pelo capitalismo voraz da boca de fumo
falo de muitos Pineirinhos
policia no campus
barcas e passagens mais caras
torno a falar de amor
e não me calo
que calem os fracos
os desavisados
e como dizia Roberto
que tudo mais vá pro inferno