Quem sou eu? Meus amigos me chamam de Giglio. Ator, diretor do grupo de teatro pRoSCEniUm, dramaturgo, palhaço, poeta, militante eco-socialista. Criado e vivendo em Volta Redonda-RJ.

Todas as poesias, micro-contos, textos teatrais, desenhos, fotos, sons, vozes e filmes são culpa minha. Exceções para trabalhos com alguns fotógrafos e poetas convidados.

quarta-feira, 28 de março de 2012

na minha cidade
não existe democracia
a prefeitura manda nos jornais
que financia
manifestações não pode mais
liberdade de expressão
nem pensar
bota a guarda pra vigiar
com pão e circo e excursão
se esconde a corrupção
out-door não posso fazer
palavras de ordem não posso dizer
e o povo vai engolindo
excursões bailões caminhões
tudo que se vai produzindo
pra ganhar voto e milhões
mas isso está acabando
estão chegando as eleições
eu sei que nada é perfeito
agora é votar direito
e tirar esse prefeito  
minha cidade carece de saúde
carece de educação
a propaganda é uma fraude
e os avanços ilusão
a prefeitura paga mal
médico e professor
trabalham feito animal
e apesar de tanta dor
tudo fica sempre igual
nem salário bom nem respeito
só uma tristeza no peito
isso tudo tem um culpado
e ele tem que ser denunciado
o culpado é o prefeito

café fresco
pão com queijo
e com regozijo
gigantesco
me ponho de pé
rezo cheio de fé
e saio pra batalha
que Deus nos valha
que a vida e bela
e é real não tá na tela
e embora o secretário e o prefeito
tentem me fazer infeliz
grito satisfeito
sou dono do meu nariz
estufo o peito
e saio cantando e me deleito
nas ruas da minha cidade
tem artista e mendigo
mas é muita crueldade
vivem todos em perigo
o prefeito mandou tirar
a guarda não sabe abordar
ele quer nos impedir de manifestar
ele quer a cidade de pobres limpar
bota a culpa no consumo de droga
e desrespeita a constituição
ele incentiva a discriminação
e com vidas ele joga
parece que ele não sabe
que o direito do artista de rua
é universal e proibir não cabe
essa é a verdade nua
nosso prefeito é uma droga
mas se acha um homem de toga
o sol lá fora
a brisa
um beijo agora
tire a camisa
amor vem
é hora
os nossos sonhos cabem
nesse dia
nessa cama
nesse ato
que desata
nossa trama
o cinza do céu
desta quarta corrida
quase encobriu a beleza
de um novo despertar
mas a vida nos sacode
com seu bom dia
deletei seus retratos
exclui em todos os lugares
apaguei seu número
no celular
pra não correr o risco
de ligar
mudei meu caminho
de volta pra casa
mudei
não quero
já foi

domingo, 25 de março de 2012

o domingo
nasceu brilhante
acordei ofegante
pulei da cama
lavei o rosto
e mesmo a contra-gosto
lavei roupa
o banheiro
varri a casa
guardei tudo
que estava esparramado
mas mesmo contrariado
encontrei alegria
pra dizer
bom dia
nasceu
o dia nublado
o homem ocupado
nasceu
com a correria do dia a dia
a mulher e sua filha
nasceu
homem mulher criança
e um bocado de esperança
no sol que vem
no homem que luta
na mulher e sua labuta
na criança
e seu sorriso
que vai iluminar o mundo
e alegrar a segunda-feira
dim dim dom
o soldado tem um dom
e num momento de folga
numa clareira qualquer
surreal imagem
de pé ao piano
tocando Ravel
meio a uma guerra
suja
como todas as outras
silêncio das armas
silêncio no coração
silêncio
começou a apresentação
silêncio que morreu mais um
mais um que tomba
no campo de batalha
e o piano surreal
o soldado
e todo o bosque
em silêncio
fazem luto 
amo ir ao mercado
amo o cheiro da feira
gosto das frutas verdolengas
as verduras mais frescas
o bom dia
da dona Maria
morena
de preto
batom e kajal
cheiro de noite
jeito de flor
clima de festa
poesia e amor
quando falei de seus pés
e você riu
e todo mundo viu
ninguém ouviu
o que falei pra você
muito menos o segredo
que guardo toda madrugada
vem me beijar,
doce vampira
me dá sua carne fria
deixa eu morder
seu pescoço
invertendo o jogo
na luz do luar
deixa eu saber seu sabor
beija minha boca
deixa eu saber de você
na luz do luar
e me acostumar
deixa eu voar com você
toque um acorde
dissonante
emocionante
acorde
e me acorde
pra beijar
pra dançar
continua a sob o luar
noites antigas de medo
entre as coisas do capital
é ela
a mais desprezível visão
as mães com filhos no colo
enfrentando cavalos
tratores
enquanto o especulador
sorri mostrando dentes caninos
que crava nas jugulares
como vampiro doente
enquanto pelas grandes antenas novas
da velha Venus platinada
a população não sabe de nada

sábado, 24 de março de 2012

quanto mais o pau come 
quantos mais se borram de medo
mais é preciso se jogar na luta
e a voz agigantar
e fazer paralisação
piquete
greve
contra o aumento da passagem
contra o salário de fome
contra o neo-facismo paulista
e também contra o do governo carioca
contra o primeiro de abril
que não é mentira
e parece a volta da ditadura
é preciso perguntar aos magistrados
pra quem é feita a justiça
e perguntar aos jornalistas
pra quem é feita a notícia
e onde a lei é o silêncio
onde se impõe a opressão
ali será feita a batalha
onde faltar o pão à mesa
onde a casa for pequena
onde houver o despejo
ou muro ou cerca
encurralando o ser humano
vem a revolta e o desassossego
como pode
alguém
ser tão exigente
e ver um amor
como o da gente
ser abraço raso
e no primeiro instante
na primeira pedra do caminho
pular do carro
ir em frente
das as costas
esconder verdades
se mandar?
como pode
amar chorar sofrer
e não ver
que amor é par
abraço
mar
e mergulhar
a poesia apronta
aponta
conta
e quando damos conta
encanta sacode pisoteia
e sai num rasgo
impaciente
pra virar verbo
poetar

são 2h20 de uma noite de chuva
estou sozinho e meus fantasmas
andam pelo apartamento
sussurrando meu passado
meus medos
assombrando a madrugada
desnudando meus segredos
eles entram no quarto
invadem minhas folhas
guiam minhas mãos
ocupam minha poesia
meus fantasmas todos
são poetas músicos prostitutas
me acompanham da adolescência
me inspiram e principalmente
me amedrontam
o gato na janela
tomando seu sol diário
vê o dia sorrindo azul
os carros que passam
e num miado amigável
ronronando diz bom dia
hoje acordei só
hoje acordei sorrindo
hoje acordei sonhando
hoje eu vou pra capital
hoje não choro
rio
hoje não tenho dó
hoje o assunto é findo
hoje eu vou cantando
hoje a alegria é caudal
hoje não choro
rio
hoje vou ser feliz
pra sempre


amores gasosos voláteis gozosos
amores gostosos
inflamáveis
queimam a pele
e se apagam

domingo, 18 de março de 2012

o dia vai ser bom
o sol vai brilhar
e apesar de todas as barbaridades
injustiças explorações
aumentos de passagem
pão cerveja teatro
mesmo com a luta de classes
a crise na Europa
o massacre de Pinheirinho
o lixo nas ruas
até mesmo com os padres
e pastores pedófilos
os pitiboys ateando fogo em mendigos
a cultura que não é para todos
e a Volta que não está em ordem
nós vamos nos amar
porque ainda assim
nosso coração ainda bate
somos fortes pra lutar
e a vida é feita pra sonhar
dormi feliz
pensando em nós
em sóis brilhando
e dias azuis
de sorrisos abertos
e a gente se amando
gosto de amores assim
maduros vividos
de fogo brando
que cozinha os sentimentos
que ferve aos poucos o sangue
que esquenta a solidão
e nos alimenta o coração
não
não chore não
deixa eu fazer você feliz
dar a mão
um pouco de tesão
você não está mais sozinha
junto a você 
tem meu coração
conheci uma idiota
que disse que artista
não presta é vagabundo
é safado tudo da mesma laia
disse barbaridades pra mim
depois de dizer que me amava
falou bobagens
se mostrou escrota
ignorante
e que não conhece o lado bom
que todo artista tem
porque segundo Shakespeare
somos feitos da matéria dos sonhos
e quem sonha é bom é do bem
e se ela não quer sonhar
se ela não quer amar
que fique eternamente
na sala de bate papo da uol
na esquina
onde for
que vá se catar
e mesmo assim
sem desdem
depois de desabafar
lhe desejo paz
e bem
santa Joana
nada santa
toda bela
sem ser Isabela
rebelde
linda
dark
gótica beleza
que me acompanha
na madrugada
uma pedrada
na minha janela
seja da noite
seja minha
passe a noite
comigo
sorrindo
seu riso
lindo
dormindo
amando
ao menos
enquanto o sol
não vem
eu nunca mais vou ver o mar
eu nunca mais
nunca mais
nunca
ver o mar
com os mesmos olhos
com aqueles que
da areia
via você sair
linda e molhada
rindo
com seus olhos de Capitu
vindo em minha direção
não
eu nunca mais vou ver o mar
com a mesma mansidão
do nosso beijo demorado
eu nunca mais vou ver o mar
do seu lado
brilha mais
o dia o sol 
mais uma vez
brilha pra dizer bom dia
brilha pro gato que mia
brilha pra minha tia
brilha pro catador de papelão
brilha pro menino que brinca no chão
brilha o dia
cheio de simpatia
pra minha vó e pra cotia
brilha pro João
e também pro capitão
brilha até pro prefeito
mesmo com o que ele tem feito
brilha o sol
reflete no rio
brilha o sol
reflete nos carros
brilha o sol
e acaba com o frio
brilha o sol
e os olhos claros
podem falar o que for
mas sempre
pra acabar com a dor
sempre
o sol nasce pra todos
minha mãe vai embora
e nós dois
estamos brigados
minha mãe vai embora
e nós dois
de dentes cerrados
de mudanças é hora
pros dois
novo cordão partido
passagens caixas
coração
partido
ido
foi
só  rio
sou rio
   rio
  reto
 reto
reto
i
o que deságua
oumeafóga
e por isso rio
do rio e me rio
e sigo alegre minha reta
a sensação que tenho
é que me amputaram um braço
que o ar faltou
que o coração saltou
pela boca
se afogou num riacho
o dia cinzento
as nuvens
as dívidas
o chato
do cachorro
da vizinha
nem mesmo
minha azia
vai me impedir
de sorrir
e dizer bom dia
toque um acorde
dissonante
emocionante
acorde
e me acorde
pra beijar
pra dançar
vem me beijar
doce vampira
me dá sua carne fria
deixa eu morder
seu pescoço
invertendo o jogo
na luz do luar
deixa eu saber seu sabor
beija minha boca
deixa eu saber de você
na luz do luar
e me acostumar
deixa eu voar com você
quando falei de seus pés
e você riu
e todo mundo viu
ninguém ouviu
o que falei pra você
muito menos o segredo
que guardo toda madrugada
morena
de preto
batom e kajal
cheiro de noite
jeito de flor
clima de festa
poesia e amor
amo ir ao mercado
amo o cheiro da feira
gosto das frutas verdolengas
as verduras mais frescas
o bom dia
da dona Maria


domingo, 11 de março de 2012

Maria liberada
desavergonhada
mulher amada
Alice guerreira
defensora
Maria Alice senhora
que não conhece mentira
fêmea mãe mulher
amada safada
armada de garra
pra luta e pra vida
pro fogo e pra fumaça
pra viagem e pra fantasia
sempre prenhe de vida
que emprenhe minha vida
de luz e ande junto
lado a lado
perfumando a estrada
com seu cheiro doce
de vida comum
fala de ratos
como quem fala de restos
de fim
de pragas e pestes
me faz sentir
a poesia apocaliptica
que queimará
toda loucura
e todo mal
a poeta fala de feminismo
como quem fala de vida
fala da sua
tranquilamente vivida
não por falta de lutas
mas por gênio e estilo
vai desfiando suas histórias
conhecimento adquirido
com coração refletido
ela fala do significado das palavras
do que elas falam sem falar
fala de pequenos gestos
e com os seus singelos
e delicados
ilustra os motivos
desenha os debates
ela está certa de sua causa
e quem sou eu pra discordar
e mesmo que esteja equivocada
em alguns momentos do seu pensar
vou estar do seu lado
até o sexismo acabar
Rosa passou
sorriu e partiu
pensem nas mulheres  moças violadas
pensem nas meninas novas bolinadas
pensem nas mulheres vidas molestadas
pensem nas feridas como chagas abertas
mas não se esqueçam do espinho
do machismo hereditário
machismo estúpido impávido
espinho incômodo
machismo
sem cor sem perfume sem Rosa
sem nada
prometo uma poesia
só pra você
e juro que me comporto
não bebo
não falo palavrão
e só seguro na sua mão
e se você quiser ir embora
entediada
eu te faço uma piada
que é pra ver seu pranto
se transformar nesse sol sorriso
que iluminará meus dias