Quem sou eu? Meus amigos me chamam de Giglio. Ator, diretor do grupo de teatro pRoSCEniUm, dramaturgo, palhaço, poeta, militante eco-socialista. Criado e vivendo em Volta Redonda-RJ.

Todas as poesias, micro-contos, textos teatrais, desenhos, fotos, sons, vozes e filmes são culpa minha. Exceções para trabalhos com alguns fotógrafos e poetas convidados.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

pegue seus escritos
seus diários suas memórias seus retratos
rasgue as palavras as fotos os fatos
corte na carne
sangre suas convicções
se submeta
aceite os fatos
se coloque no pau de arara
deixe se apagar nos jornais
deixe inventarem uma vida nova
onde você sem culpa é o vilão
se arraste por entre os carros
ria com baratas no cu
sinta a dor das porradas
urine com o choque nos mamilos
se atire de helicóptero na baia da Guanabara
deixe que governem seu país sua vida sua morte
não encare nem enfrente
se cale
mostra suas coisas pra Sônia
peça um carimbo um passaporte permissão
peça asilo
vá embora
que o dia dois de abril
nasce sujeito a balas
raios tiros e trovoadas
e se lhe derem corda
se enforca com ela ou com seu cinto
eu sinto
nada mudou
talvez as fardas verdes
substituídas por papel vagabundo
escrito com graxa
talvez a música
e pra não dizer que não falei de flores
falo de amores de drogas de crimes
falo do moleque morto pela polícia
ou pelo capitalismo voraz da boca de fumo
falo de muitos Pineirinhos
policia no campus
barcas e passagens mais caras
torno a falar de amor
e não me calo
que calem os fracos
os desavisados
e como dizia Roberto
que tudo mais vá pro inferno
primeiro de abril
de um ano par
que se prolongou no Brasil
torturou censurou fez muita gente se calar
e numa noite longa e fria
de anos de pão do diabo chumbo e agonia
fez muita gente chorar
sumir morrer
fez a certeza crescer
certeza de um novo dia
que se anuncia
claro luminoso nobre
pra transformar a alma pobre
pra gritar em brado forte
nunca mais vou me curvar
não vou chorar
não me render
você vai ver
o novo vento soprar
censura tortura morte
nunca mais vão voltar
e num novo tempo de alegria
a liberdade vai reinar
na minha cidade
enquanto a guarda
persegue artista
o tráfico rola solto
longe das câmeras
instaladas nos postes
e nos jornais
imagens nos enganam
palavras nos tapeiam
são cabos eleitorais
do prefeito e sua turma
que jogam baralho
num quiosque especial
lá perto do Comercial 
vem chegando
a luz de um novo dia
com pardais cantando
esparramando alegria



nas esquinas da cidade
Gaston se apresenta
monociclo
malabares
pirofagia
quanta magia 
a menina de dreads
passeia de bicicleta
anda de pernas de pau
aprende palhaçada
esparrama risada
simpatia
bom dia
mas não sabe
sair da gaiola
nem da paquera
do palhaço ruim da cachola 
amo tanto 
e de tanto amar
nem sei mais 
se sei falar
se sei sonhar
só sei você
solidão dói dói dói
a vida é dura e dura dura
a rua é grande
e o mundo vasto mundo
gira gira gira
e a pomba gira
o sol que nasce
queima a pele
mas não esquenta o coração
meu coração dói dói dói
mas não para o tum tum tum
valei-me Ogum
a esperança é verde
o dia é branco
e esse coração que eu falo tanto
é  vermelho lutador
não desiste nem com dor
marcha valente cabeça erguida
vai em frente
diz bom dia
a ponte
entre a madrugada
e o dia
é onde gosto de estar
vendo meu rio de poesias
correndo pro mar com alegria
com peixes-protesto peixes-sexo
e alguns peixes-amor
caudaloso vai passando
levando de mim
tudo que sou
na minha cidade
os automóveis são
mais importantes
que as pessoas
sem piedade
passam vão
pedantes
soprando CO2
como se fossem
os donos e o sentido
o ritmo e a alegria
de toda a coletividade
das ruas esquinas
e até nas calçadas
ficam expostos em mil lojas
são tantos
que daqui a alguns anos
teremos um velho
e gorducho fusquinha
que se elegerá prefeito
e sairá inaugurando ruas
pontes meio fios
terá amigos que vendem gás
bem parecido
com o prefeito de hoje